Ressecção de pequenos pólipos colônicos em pacientes anticoagulados: estudo prospectivo randomizado comparando a polipectomia convencional com a ressecção de laço frio

Fonte: Endoscopia gastrintestinal

Comentário

As diretrizes da ASGE (Sociedade Americana de Endoscopia Gastrointestinal) atualmente consideram a polipectomia convencional ou de ciclo frio como um procedimento de alto risco em pacientes anticoagulados e recomendam que a anticoagulação seja descontinuada antes do procedimento.

Esta recomendação se baseia nas evidências disponíveis de que o risco de sangramento pós-polipectomia em pacientes anticoagulados é de aproximadamente 10%. Entretanto, o risco de eventos tromboembólicos após a descontinuação da anticoagulação é de aproximadamente 3%.

Este artigo publicado na revista Gastrointestinal Endoscopy por um grupo japonês levanta a questão do risco de polipectomia convencional versus polipectomia de ciclo frio em pacientes anticoagulados sem retirada da anticoagulação.

Este é um estudo prospectivo randomizado realizado em um único centro no Japão, no qual pacientes com mais de 20 anos de idade que eram anticoagulados e tinham pólipos menores que 10 mm na colonoscopia de triagem foram inscritos por 10 meses. Os critérios de exclusão foram: mulheres grávidas, ASA III ou IV, obesidade (>100 kg), alergia ao propofol ou preparação insuficiente impedindo a observação de pelo menos 90% do cólon. O resultado primário foi o sangramento retardado (sangramento nas primeiras 2 semanas do procedimento que teria exigido intervenção endoscópica) e o resultado secundário: sangramento imediato (sangramento de gotejamento durante o procedimento por mais de 30 segundos que teria exigido clipagem hemostática).

O tamanho estimado da amostra era de 53 pacientes em cada grupo, porém uma análise provisória durante o curso do estudo mostrou uma alta taxa de sangramento com polipectomia convencional (40%) e o estudo foi interrompido. Finalmente, 77 pacientes foram incluídos prospectivamente, dos quais 7 foram excluídos por causa de lesões maiores que 10 mm. Todos os pacientes foram aleatorizados saindo 35 pacientes no grupo convencional (CG) e 35 no grupo de laço frio (GF). Os dois grupos eram semelhantes no que diz respeito às características demográficas.

Nos pólipos GF 78 foram ressecados com um tamanho médio de 6,5 mm e no CG 81 com um tamanho médio de 6,8 mm. Com relação ao sangramento retardado, foi observada uma diferença significativa entre os dois grupos, sendo 14% (5/35) no GF vs. 0% (0/15) no GF; P=0,027. O sangramento imediato foi de 5,7% (2/35) vs. 23% (8/35) respectivamente; P=0,042. A razão de chances de sangramento pós-polipectomia no GF foi de 6,5 (95% CI, 1,9-22,5). Com relação ao estudo histopatológico dos pólipos, não houve diferença na taxa de ressecção completa entre os dois grupos. Entretanto, uma diferença estatisticamente significativa foi observada na presença de artérias submucosas nas amostras analisadas: GC 47% vs GF 32%, P=0,049. Da mesma forma, a presença de artérias submucosas danificadas também foi maior na GC: 22% vs 39%, P=0,023.

Em conclusão, este estudo mostra que a polipectomia de ciclo frio parece ser um procedimento útil e seguro em pacientes anticoagulados, pois o sangramento imediato poderia ser efetivamente controlado com clipes hemostáticos ou outros métodos. O sangramento retardado parece ser muito menor do que o estimado com a polipectomia convencional, tornando-o um método seguro que poderia evitar a interrupção da anticoagulação e prevenir eventos tromboembólicos. Uma possível explicação para as diferenças observadas entre as duas técnicas poderia estar ligada à lesão das artérias submucosas, uma situação mais freqüentemente observada na polipectomia convencional. Embora este seja um pequeno estudo de amostra, futuros estudos maiores e multicêntricos poderiam ser importantes para corroborar estes resultados.

Conduzido por: Dr. Ramiro C. González Sueyro

Artigo original:
Remoção de pequenos pólipos colorretais em pacientes anticoagulados: uma comparação prospectiva aleatória de laço frio e polipectomia convencional.
Akira Horiuchi, MD,1 Yoshiko Nakayama, MD,1,2 Masashi Kajiyama, MD,1 Naoki Tanaka, MD,1 Kenji Sano, MD,3 David Y. Graham, MD.
Gastrointest Endosc. 2014 Mar;79(3):417-23.